John Snake é exemplo de superação. O alagoano de 32 anos lutou, sofreu, superou desafios e venceu, recomeçando para enfrentar a maior batalha da vida. O menino que, aos 3 anos de idade, encarou sua primeira grande luta (o suicídio do pai), chegou ao topo ao ser campeão do maior torneio de MMA da América Latina. Hoje tetraplégico, ele é um guerreiro além do ringue. Espera um milagre de Deus e renova cada dia a sua fé. “Eu tenho uma fé inabalável em Deus”, disse à Gazetaweb.
John David nasceu em Maceió e viveu uma dor irreparável, quando o pai, que era militar, se matou com ele ainda no colo, na frente da irmã. “Essa foi minha primeira batalha: conviver com a morte do meu pai”, disse John.
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Crescendo na periferia, conheceu o karatê, aos 10 anos, através do projeto Escola Aberta. Inscreveu-se em várias atividades, mas foi no karatê que se encontrou. Seu talento chamou a atenção do sensei Jailson Neves, que o inscreveu em seu primeiro campeonato. John venceu e foi conquistado pelo esporte. Depois percebeu que precisava de um esporte com mais contato. “O karatê era semi-contato e eu queria algo mais intenso”, explica.
No karatê recebeu o apelido que levaria para a vida. “Meu nome é John. O Snake (cobra) veio por causa de um golpe chamado ‘Ashi Barai’, uma rasteira que eu usava para vencer lutas. Começaram a me chamar de John Cobra e, como o nordestino gosta de americanizar tudo, ficou John Snake”, disse, ao jornal Golaço, em entrevista recente.
A história de John prossegue em Palestina-AL, onde ele falou de sua batalha ao Golaço. John deixou Alagoas rumo a São Paulo, aos 18 anos, para se tornar lutador de MMA. Morando na casa de um tio em Cubatão, trabalhava como servente de pedreiro durante o dia e viajava para Santos, à noite, para treinar.

Ele achou nas redes sociais a oportunidade de fazer um teste na equipe de MMA do Corinthians. Passou, mas sem vaga no alojamento, morou na academia de muay thai de Rômulo Tinetti. Lá recebeu sua primeira luta profissional, onde finalizou o adversário no jiu-jitsu. Durante sua trajetória, nasceu sua filha Marina, hoje com 9 anos, e transformou sua motivação. “Antes, eu lutava por mim. Depois que ela nasceu, virei o John pai”, disse.
Sua carreira estava decolando, mas a pandemia da Covid-19, em 2020, chegou ao Brasil e várias academias fecharam. O Corinthians mandou seus atletas para casa e ele se viu sem salário e sem condições de pagar a pensão da filha. Voltou para Alagoas e montou um barzinho. Com o fim da pandemia se aproximando, recebeu um convite de Urso Castelo, seu treinador no Corinthians, para voltar a São Paulo e treinar em sua academia. O bar começava a prosperar, mas ele fechou e, com o apoio da mãe, Jaudirene, voltou a São Paulo, onde competia pelo Corinthians, mas fazia a preparação na Lotus Club Jiu-Jitsu, sob o comando de Urso Castelo. Foi quando surgiu a chance de lutar no Jungle Fight, maior evento de MMA da América Latina. “Na minha estreia, venci por nocaute”, relembra.
O desempenho chamou atenção e John foi convidado para outras lutas. Ele fez a maior preparação de sua vida e conquistou o título. “Fui o primeiro alagoano campeão do Jungle Fight”, exalta.
No dia 21 de janeiro de 2023, no Mundial de Jiu-Jitsu sem quimono, sua vida tomou um rumo inesperado. “Eu vencia a luta quando tentei uma queda de quadril. Meu adversário fez força contra mim e caí de cabeça no tatame. Meu corpo parou na hora. Não sentia mais nada”, disse. O diagnóstico: tetraplegia. “Os médicos disseram à minha mãe que eu só mexeria os olhos”, lembra.
Ele acredita que havia um propósito maior por trás de tudo isso. “No começo, foi muito difícil. Mas Deus age da maneira certa. Meu pai cometeu suicídio e eu carregava essa dor. Deus paralisou meu corpo para cuidar da minha mente e do meu coração, para depois me devolver os movimentos”, crê John, que depois do acidente, voltou para Alagoas, onde recebe o apoio da mãe e do padrasto, Ademir, a quem considera um grande amigo.

Com uma fé inabalável, John tem sua nova missão: lutar até voltar a andar. “Vou batalhar até o fim. Os médicos dizem que é impossível, mas Deus me diz que é possível. Eu tenho fé e creio que Deus pode me recuperar, mas na hora dele, no tempo dele, no momento certo. Assim, se ele me recuperar, ele é Deus; se ele não me recuperar, ainda continua sendo Deus”, disse, à Gazeta. “Eu sou católico. Tenho fé em Jesus Cristo. Acredito com todas as forças do meu coração”, emendou.
Acompanhado pela fisioterapeuta Elisiane Barros, John já apresentou avanços e descobriu um tratamento que pode mudar sua vida. “Tenho que fazer umas aplicações de células-tronco direto na medula e ainda não consegui porque é muito caro. Eu sozinho não consigo. Só com as providências de Deus, um milagre ou um anjo entrar na minha vida para eu fazer as aplicações”.
Segundo ele, são necessárias de oito a dez aplicações para uma recuperação significativa. “O médico disse que posso recuperar até 30% dos movimentos. Já recuperei 20%. Se ganhar mais 30%, chego a 50%. Mas o valor é R$ 50 mil por aplicação. Aí só um milagre de Deus, mas estou confiando na ajuda do Senhor”, disse.