Liniker surgiu na música brasileira há quase dez anos e foi elevada imediatamente ao status de promessa. A voz potente e a interpretação visceral chamaram a atenção assim que o clipe de ‘Zero’ apareceu no YouTube. Apesar de a cantora desafiar padrões, o mainstream não pode ignorá-la. Com o passar dos anos, ela cantou pelo mundo, entrou na estreita lista de vencedoras do Grammy, se tornou imortal da Academia Brasileira de Cultura, consagrou-se como atriz, deu um chega pra lá na timidez que afirmava lhe travar e mostrou que veio para ficar. E ainda melhor: cravou que uma mulher preta e transexual pode chegar onde ela quiser.
Nesta sexta-feira (15), a terra que pariu a República, e estas ruas sobre as quais canta Djavan em suas canções, recebem Liniker para uma noite memorável no Festival Carambola, em pleno feriado. Com ingressos esgotados, a artista promete transformar o palco em território sagrado, no qual o público encontrará não apenas a cantora, mas a mulher que, em sua plenitude, faz da arte uma celebração do existir e se apaixonar.
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Em entrevista exclusiva à Gazeta, Liniker conta que a turnê de Caju, seu segundo álbum solo, renovou suas forças. O processo do disco — que já nasceu um clássico — lhe fez se enxergar mais madura, mais dona de si, muito mais proprietária das palavras de suas composições. Nas faixas, ela se aprofunda em uma narrativa solar e arrebatadora, misturando influências que vão do arrocha ao jazz, tudo temperado com brasilidades. Aos que irão ao show desta noite, a previsão é de tempo firme e uma mistura saborosa de Carambola com Caju. “Levem lenços”, avisa Liniker.
GAZETA. Vamos começar falando das suas influências. Quais foram suas principais referências ao longo da vida?
LINIKER. Não tem como chegar em Alagoas e não pensar em Djavan, que é uma dessas referências. Mas elas vêm de muitos lugares, Djavan, Dona Jovelina Pérola Negra, meus tios que cantam samba, as escolas de samba de São Paulo e do Rio, o samba-rock, acho que tudo do movimento preto a nível de cultura é minha grande influência.
E como essas influências estão em Caju? Aliás, como Caju nasceu e o que representa nessa nova fase da sua carreira?
Foram essas influências que me permitiram explorar uma variedade de ritmos. Elas também podem ser vistas na poesia do disco, na sua autenticidade. Acho que, por mais que Caju tenha muitos ritmos, ele é muito original em sua proposta. O que tem muito a ver com as minhas referências também.
Você pode nos contar um pouco sobre o processo do Caju e quais as diferenças desse processo em relação ao Índigo?
O processo de Caju foi muito mais interno, sabe? E rápido. A diferença entre um e outro, eu acho, está no fato de Caju ser mais solar mesmo, enquanto o Índigo é soturno e foi produzido na pandemia. Tem uma restrição ali que se traduz na forma de produzir o disco. Já o Caju vem do sol, vem do desejo, do encontro, desse verão eterno. As músicas do Caju são mais solares, eu tô mais disponível também, tudo é up assim.
No álbum, você fala essencialmente de amor e plenitude. Qual a importância de cantar o amor para você?
Falar de amor me deixa viva, me deixa olhando para o que eu quero viver de fato. Eu fico muito feliz por ser uma cantora e uma compositora que ainda tem essa temática como uma certeza. E é onde eu sei falar. Acho que é bom quando você começa a defender as coisas que você acredita, né? Com mais certeza. O Caju é um álbum de certezas.
Olhando pra trás e pro tamanho da demanda de hoje em dia, o que a Liniker adolescente, criança, que sonhava com tudo isso diria? E o que você diria pra ela?
Eu acho que eu diria que vai valer a pena. Vai valer a pena andar tanto a pé em Araraquara pra fazer todos os cursos que você fez, que era bastante, foi muito esforço. Eu contaria pra ela que deu certo, que tem dado certo. E que agora tá na hora de refazer a lista de sonhos, você já realizou muita coisa.
Em algumas entrevistas você fala de astrologia, de ancestralidade. Você pode comentar um pouco essas duas coisas e o que representam para você?
Eu gosto muito do místico, do mistério. E não só disso, sou uma mulher de muita fé. Eu gosto de estar conectada com o movimento das coisas. Acho que a astrologia, o candomblecismo, fé, tudo é movimento ancestral. Quem sou eu para não acreditar nas coisas que já vieram antes de mim? Eu gosto muito. Eu acho um lugar seguro.
Nessa rotina de shows, dá tempo de conhecer os lugares? Deu tempo de conhecer Alagoas?
O triste de viajar tanto é que poucos lugares eu conheço mesmo. Sério. Não conheço Alagoas como eu gostaria de conhecer. Queria muito fazer viagens para todos esses lugares que eu vou trabalhar. Mas toda vez que eu venho eu tento me conectar com cada pouquinho que seja, estar presente na cidade e beber um pouco daqui.
E o que podemos esperar desta noite?
Tudo, gente! Lágrimas, risadas, dança, pulos. Levem lenços, porque Caju é pra fazer chorar. Tudo.
SOBRE O CARAMBOLA
O Festival Carambola surgiu em 2017 com o objetivo de valorizar a arte alagoana em suas mais diversas vertentes, tendo como foco principal a música. O evento, que começou em uma pequena casa de shows, está hoje inserido no mapa dos mais relevantes festivais musicais independentes do Brasil.
O Festival Carambola 2024 tem patrocínio master do Nubank e patrocínio da Secretaria de Turismo do Estado de Alagoas e Governo de Alagoas. A realização é da Carambola Produções, Ministério da Cultura e Governo Federal via Lei de Incentivo à Cultura Federal. O evento também conta com apoio do Ibermúsicas e parceria do Movimento Cidade. Este ano o Festival Carambola conta com a consultoria em sustentabilidade da Eccaplan.