Novembro começou bem para os amantes da música, com o lançamento do álbum “Coração Sangrento”, uma parceria entre Zeca Baleiro e Wado, que já está disponível nas plataformas digitais. O disco reúne composições autorais e traz dez títulos inéditos compostos ao longo da pandemia, quando, devido à pausa nos shows, houve mais espaço para criação artística.
O projeto celebra não apenas a amizade de mais de duas décadas entre os artistas, que se conheceram em meados dos anos 2000, mas também as diversidades sonoras e temáticas que cada um carrega consigo nos álbuns individuais.
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A relação entre Baleiro e Wado remonta ao início do milênio, quando Wado despertou o interesse de Zeca com o álbum “Manifesto da Arte Periférica”, que virou pauta de uma revista. No entanto, foi apenas em 2002 que Wado tomou conhecimento da silenciosa admiração de Zeca e, desde então, surgiu uma amizade entre os artistas que já começaram a pensar em parcerias.
“Eu e Zeca somos amigos desde 2002. Eu tinha lido uma entrevista do Zeca na revista Isto É, que ele falava que gostava do meu trabalho, eu não sabia que ele me conhecia, conhecia a obra. E aí acabamos nos encontrando fisicamente e ficamos amigos”, conta Wado.
“Coração Sangrento” surgiu da interação à distância entre os músicos que trocavam áudios e vídeos pelo WhatsApp, em meio ao isolamento social. Para Zeca, o processo de compor de forma conjunta é bastante ‘curioso’, como costuma dizer.
“É curioso quando se compõe com um parceiro. Pelo menos para mim é um processo interessante, eu tento me “aproximar” do universo poético e musical dele. Aconteceu isso neste disco com o Wado”, afirma Zeca Baleiro. Ele conta, ainda, que o processo foi muito prazeroso. “Wado, além de grande compositor e poeta, é um grande cara, amoroso, paciente e tranquilo. Foi muito bom partilhar esse processo com ele”, concluiu.
Wado conta como muitas canções surgiram do mero acaso, resultado de gostos em comum e tempo livre entre os dois. “O que acontecia para a gente fazer essas canções é que, na pandemia, a gente conversava muito pelo WhatsApp. Ele gosta de cozinhar, eu gosto de cozinhar, e às vezes eu tava tomando uma cervejinha aqui, preparando uma comida”, constata.
Adorando tudo isso, Baleiro confirma a maneira inusitada de construir um novo álbum, e não poupa um autoelogio pelo bom trabalho. “Às vezes ele mandava um início de canção e eu continuava; eu mandava um refrão e ele desenvolvia e devolvia. Rolou um bate-bola saudável e generoso. Eu sou suspeito, mas adoro o álbum, acho que ficou muito bonito”, diz o cantor, de bom humor.
Musicalmente, o álbum percorre por uma pluralidade de gêneros, indo do rock ao samba, sem se fixar em um único gênero musical. Além disso, nas letras, “Coração Sangrento” foge do romantismo sugerido ao ler a palavra Coração, focando em temas mais filosóficos, como discorre Wado.
“Os assuntos contidos no Coração Sangrento são dos mais variados. É um disco mais filosófico do que um disco de amor assim, um disco que reflete muito sobre a nossa conduta, o estar no mundo hoje, então Zaratustra, por exemplo, a gente fez comentando, eu tava lendo Zaratustra e o Zeca diz: ‘Ah, eu adoro esse livro’. E aí começamos, dali surgiu a canção”, relatou.
Inspirada em leituras filosóficas de Nietzsche, a música Zaratustra reflete a profundidade das letras. Outras faixas, como “Quebra-mar”, evocam as experiências de Wado no Carnaval de Maceió, enquanto “Carrossel do Tempo” aborda o veganismo e a vida na periferia. O título do álbum, Coração Sangrento, trata do ímpeto de mergulhar nas coisas que importam. Ela convida todos a viverem intensamente, mergulhando nelas sem as redes de contenção. Zeca elabora um pouco sobre os temas presentes no álbum.
“Atualidades, como a influência da tecnologia na nossa vida, a comunicação em tempos de redes sociais etc. E os temas eternos como amor, amizade, desencanto, perda, morte etc”, conta o músico.
As gravações, assim como as composições, foram feitas de forma remota, em dois estúdios diferentes. Wado gravou em Maceió, no estúdio em que trabalha.
“As gravações foram realizadas em São Paulo e em Maceió. Aqui em Maceió eu gravei no Vergel do Lago, no estúdio Dona Mix, do Jair Donato. É onde eu trabalho diariamente, é um estúdio que tem uma qualidade técnica muito linda e situado num bairro lindo, que é o Vergel do Lago”, disse.
Enquanto isso, Zeca gravou em estúdio próprio, com o produtor Sérgio Fuad, também produtor do disco. “O Zeca gravou muita coisa no estúdio dele, o Sérgio Fuad, que é o produtor do disco, a gente também gravou muita coisa na casa dele. E a gente fez também algumas gravações no Midas, que é o estúdio do Rick Bonadio. Gravamos bateria e quarteto de cordas no Midas.
A turnê de lançamento de “Coração Sangrento” começa em Maceió, no Teatro Gustavo Leite, em 23 de novembro, seguindo para São Paulo, no Bona Casa de Música, em 7 de dezembro, e no Recife, no Teatro do Parque, em 13 de dezembro.