O general de divisão do Exército Brasileiro, Ulisses Mesquita Gomes, foi designado pela ONU para comandar as forças da Monusco (Missão das Nações Unidas para a Estabilização da República Democrática do Congo). A escolha ocorre em meio a uma guerra de anexação que vem sendo travada por movimentos rebeldes apoiados pelo governo de Ruanda que já deixou 17 capacetes azuis mortos na última semana.
A ação repete a estratégia da ONU de apontar um militar brasileiro para o cargo em um momento de caos. Em 2013, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz foi nomeado para o mesmo cargo para impedir a conquista de Goma, a principal cidade do leste do país, com uma população de 1 milhão de habitantes. Sob seu comando, as tropas das Nações Unidas e o exército da República Democrática do Congo expulsaram do país rebeldes do M23 e tropas de Ruanda em uma vitória militar obtida em menos de um ano.
A missão atual do general Ulisses é mais complexa. A AFC (Aliance do Rio Congo) formada pelo M23 reconstruído, movimentos rebeldes menores e tropas das Forças Armadas de Ruanda já conquistou quatro cidades congolesas e no último domingo invadiu Goma. Os combates continuam e o resultado da batalha ainda é incerto. Ruanda nega o apoio à AFC e ao M23.
A indicação do brasileiro pode ser uma reviravolta na postura que vinha sendo adotada pelo Conselho de Segurança da ONU. Na noite de terça-feira, o órgão havia realizado a segunda reunião emergencial sobre a situação na República Democrática do Congo e nenhuma atitude prática havia sido tomada.
Em 2013, Santos Cruz havia sido escolhido não só por suas reconhecidas habilidades militares, mas porque o Brasil era considerado uma nação neutra em um disputa de poder entre Ruanda (na época apoiada pelos Estados Unidos), República Democrática do Congo e África do Sul. Na reunião de terça-feira, todos os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU se posicionaram contra Ruanda, mas sem citar o país diretamente.
Assim como em 2013, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil exerceu papel fundamental na negociação e indicação do general.
“Foi com muita satisfação que recebi a notícia da minha nomeação feita pelo secretário-geral da ONU, o senhor António Guterres, para ser o próximo Force Commander da Monusco. Também é uma honra representar o Exército Brasileiro, nossas Forças Armadas e a bandeira do Brasil, em tão importante missão de paz do mundo na atualidade, especialmente nesse momento crítico que a população congolesa está sofrendo uns ataques de grupos armados, notadamente do M23”, disse o general ao site de notícias oficial da ONU
O general Ulisses foi vice-comandante do Comando Logístico do Exército, adido militar nos Estados Unidos, comandante da 7ª Brigada de Infantaria Motorizada do Exército. Ele também serviu à ONU no Departamento de Operações de Paz e participou da Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti).