quarta-feira, 5 fevereiro 2025

Plano de Trump para reconstrução de Gaza é mal recebido

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Declarações do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre a possiblidade do país “assumir o controle” e liderar a reconstrução da Faixa de Gaza abalaram o cenário internacional nas últimas horas, ganhando repercussão nos principais jornais do mundo.

As afirmações do líder da Casa Branca foram feitas durante uma coletiva de imprensa com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, nesta terça-feira (4).

“Os Estados Unidos vão assumir o controle da Faixa de Gaza, e faremos um grande trabalho lá. Será nossa responsabilidade desmontar todas as bombas não detonadas e outras armas, nivelar o solo e nos livrar dos edifícios destruídos para impulsionar o desenvolvimento econômico que gerará uma quantidade ilimitada de empregos e moradias para a população”, disse Trump.

A declaração do presidente americano que mais provocou reações foi uma sugestão de que os palestinos deveriam ser realocados enquanto o enclave é reconstruído. Países árabes como Arábia Saudita e Egito prontamente rejeitaram a proposta, junto com grupos que atuam em Gaza, como o terrorista Hamas.

Por meio de um comunicado, a Arábia Saudita afirmou que se opõe “firmemente” a qualquer violação dos direitos legítimos do povo palestino, incluindo “tentativas de deslocá-los de suas terras”. O país também manteve sua posição de que não estabelecerá relações diplomáticas com Israel a menos que haja um Estado palestino independente.

Um dos principais objetivos de Trump neste segundo mandato é chegar a um acordo entre Israel e Arábia Saudita para restabelecer as relações diplomáticas, um objetivo que já perseguiu em seu primeiro mandato (2017-2021) e que o governo Biden também tentou sem sucesso.

O presidente dos EUA, Donald Trump, e o premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, durante coletiva na Casa Branca nesta terça (4). Crédito: EFE/EPA/SHAWN THEW / POOL (Foto: EFE/EPA/SHAWN THEW / POOL)

O Egito, por sua vez, defendeu a reconstrução da Faixa de Gaza, mas “sem que os palestinos abandonem” o enclave.

Durante uma reunião que contou com a presença do ministro das Relações Exteriores do Egito, Badr Abdelaty, e o primeiro-ministro da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mohammad Mustafa, foi destacada “a importância de avançar com projetos e programas de recuperação rápida, remover escombros e fornecer ajuda humanitária em ritmo acelerado, sem que os palestinos deixem a Faixa de Gaza, especialmente por causa de seu apego à sua terra e sua recusa em deixá-la”.

Países da Europa também rejeitaram o plano do presidente dos EUA. A Alemanha, por meio da ministra das Relações Exteriores Annalena Baerbock, enfatizou que “a Faixa de Gaza pertence aos palestinos, e a expulsão seria inaceitável e contrária ao direito internacional”.

O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, David Lammy, também se posicionou nesse sentido ao afirmar que “temos sido claros em nossa crença na solução de dois Estados. Os palestinos devem viver e prosperar em suas terras, em Gaza e na Cisjordânia”.

França e Espanha também se opuseram ao projeto americano. O governo de Paris classificou a iniciativa como uma “grave violação do direito internacional” e uma “ameaça à estabilidade regional”, incluindo para “nossos parceiros próximos, Egito e Jordânia”, enquanto a Espanha, por meio do ministro José Manuel Albares, deixou claro que “Gaza é a terra dos palestinos de Gaza, e eles devem permanecer lá”.

Antes da coletiva com Netanyahu, a equipe de Trump já havia dado pistas da proposta que seria comentada momentos depois. Autoridades da Casa Branca afirmaram mais cedo na terça-feira que, sem um projeto de reconstrução, “Gaza continuará sendo uma zona de demolição nos próximos 10 a 15 anos e que seria melhor para os habitantes do enclave se mudarem temporariamente”.

“O presidente Trump vê a Faixa de Gaza como uma zona de demolição. Ele considera irrealista a ideia de que ela possa ser reconstruída em três ou cinco anos. Ele acredita que levará pelo menos 10 a 15 anos e que é desumano forçar as pessoas a viverem em um território inabitável, cheio de escombros e munições não detonadas”, comentou um dos funcionários. Por esse motivo, a mesma fonte argumentou que Trump está procurando “soluções” para ajudar os habitantes de Gaza a levar uma “vida normal” enquanto a reconstrução do território é realizada.

O enviado regional de Trump, Steve Witkoff, que desempenhou um papel fundamental nas negociações de cessar-fogo em andamento entre Israel e Hamas, disse publicamente nesta terça-feira que concorda que a reconstrução de Gaza pode levar muito mais tempo do que o governo Biden estimou.

O prazo de reconstrução de cinco anos fazia parte da proposta de cessar-fogo de Biden para maio de 2023, que formou a base para a trégua alcançada entre Israel e Hamas em 19 de janeiro. A nova proposta do governo Trump, segundo funcionários da Casa Branca, surgiu nos últimos dias e foi mantida em segredo.

De acordo com o jornal The Wall Street Journal, pessoas fora do círculo interno de Trump não sabiam que a ideia estava na mesa durante os dias de planejamento para a reunião com Netanyahu.

Nesta quarta-feira (5), o secretário de Estado americano, Marco Rubio, fomentou ainda mais a discussão ao escrever no X que os EUA querem tornar a Faixa de Gaza “bonita novamente”.

“Como o presidente compartilhou, os Estados Unidos estão prontos para liderar e tornar Gaza bonita novamente. O que buscamos é paz duradoura na região para todas as pessoas”, escreveu Rubio, que está em viagem pela América Central.



Fonte: Gazeta do Povo

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