A investigação que apura os motivos que levaram à execução do delator da facção criminosa PCC, Antônio Vinicius Gritzbach, no desembarque do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, na sexta-feira (8), incluirá uma análise minuciosa da lista de passageiros do voo que o trouxe de Maceió para São Paulo, após a suspeita de que a vítima estava sendo monitorada durante o voo. A polícia alagoana deve colaborar com as investigações.
Por meio de troca de informações entre a Polícia Federal (PF), a Polícia Civil e promotores criminais, surgiu a possibilidade de investigar a existência de um “olheiro” do PCC no voo, segundo os investigadores. Há uma suspeita consistente, baseada em informações de inteligência, de que a facção criminosa vinha monitorando os passos de Gritzbach na capital alagoana e durante o trajeto de volta.
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Os investigadores não descartam a possibilidade de um integrante do PCC estar no avião no retorno do delator, exercendo a função de apoio e observando sua movimentação. Dessa forma, ele poderia confirmar que Gritzbach chegou a Guarulhos e saber, especialmente, o momento exato em que ele saiu do Terminal 2, onde foi executado com 10 tiros.
A polícia acredita que a emboscada foi planejada e executada nos mínimos detalhes para garantir o sucesso do crime.
Por isso, os investigadores planejam verificar cada um dos passageiros que embarcaram no voo de Maceió para o Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos.
A força-tarefa também solicitou apoio à polícia alagoana. Uma equipe do setor de inteligência está cooperando com as investigações e refazendo os trajetos, locais visitados e pessoas com quem Gritzbach teve contato no estado. Imagens de câmeras de segurança, de trânsito, da orla e de hotéis também serão analisadas. A lista de solicitações de cooperação é extensa.
Gritzbach delatou o PCC e policiais
Gritzbach, de 38 anos, foi executado à luz do dia (por volta das 16h) na área de desembarque do Terminal 2 do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, por dois homens mascarados que desceram de um carro preto. Até a publicação desta reportagem, ninguém havia sido preso.
Na bagagem, ele levava mais de R$ 1 milhão em joias e objetos de valor. Segundo fontes da polícia, ele havia ido à capital alagoana cobrar uma dívida.
Nenhum dos quatro policiais militares contratados como seguranças particulares estava com ele no momento do assassinato. Segundo depoimentos à polícia, um dos carros que iriam buscá-lo no aeroporto teve um problema na ignição, e o outro teve que fazer meia-volta para deixar um dos ocupantes em um posto de combustível.
Investigadores desconfiam dessa versão. Uma das linhas de investigação é a de que os seguranças teriam falhado de forma proposital.
Gritzbach era investigado por envolvimento com o PCC e, em março, havia fechado um acordo de delação premiada com o Ministério Público de São Paulo, com a promessa de entregar esquemas do crime organizado e de policiais corruptos.
Nos depoimentos, o delator acusou um delegado do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de exigir dinheiro para não implicá-lo no assassinato de um integrante da facção, Anselmo Santa, o “Cara Preta”.
Além disso, Gritzbach forneceu informações que levaram à prisão de dois policiais civis que atuavam no Departamento de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc).
Nessa terça-feira (12), a força-tarefa criada pelo governo de São Paulo afastou oito policiais militares investigados por suspeita de envolvimento na execução do delator. Antes do crime, esses PMs eram investigados pela Corregedoria da corporação por denúncias de que faziam a segurança particular de Gritzbach. A Polícia Federal abriu inquérito para apurar o caso.
Em entrevista à GloboNews, o promotor do Gaeco, Lincoln Gakiya, que participou das negociações da delação premiada, confirmou que o delator se recusou a entrar no programa de proteção oferecido pelo Ministério Público.