quarta-feira, 12 março 2025

Presa por suspeita de envenenar bolo no RS pesquisou arsênio na internet, diz Justiça

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Presa por suspeita de envenenar bolo no RS pesquisou arsênio na internet, diz Justiça

Mulher é suspeita de triplo homicídio duplamente qualificado e tripla tentativa de homicídio duplamente qualificada.

Família comeu bolo envenenado. FOTO: reprodução

A mulher presa por suspeita de envenenar um bolo que causou a morte de três pessoas da mesma família em Torres (RS), Deise Moura dos Anjos, fez pesquisas na internet sobre arsênio antes do caso, confirmou à RBS TV o Tribunal de Justiça (TJ) do RS.

De acordo com o TJRS, um relatório preliminar dos dados extraídos do telefone da suspeita mostra que houve “busca na internet, inclusive no Google shopping, pelo termo arsênio e similares”.

Arsênio é um elemento químico liberado no ambiente de maneira natural ou pela ação do homem e componente usado na fabricação de alguns pesticidas. A exposição a arsênio pode causar intoxicação alimentar e reações similares a alergias, câncer em caso de exposição recorrente, e até morte.

A reportagem da RBS TV apurou também junto à Polícia Civil que a mulher fez pesquisas sobre a substância antes do caso, em novembro. A investigação segue em andamento, e a motivação não foi informada pelos investigadores porque, segundo a polícia, isso pode atrapalhar a investigação. 

O envenenamento por arsênio foi a causa da morte de três mulheres da mesma família após comerem um bolo em 23 de dezembro de 2024.

Deise é nora de Zeli dos Anjos, que preparou o bolo. Ela foi presa temporariamente no domingo (5) por suspeita de ser a responsável pelo crime. Ela está detida no Presídio Estadual Feminino de Torres e responde por suspeita de triplo homicídio duplamente qualificado por motivo fútil e com emprego de veneno e tripla tentativa de homicídio duplamente qualificada.

A prisão tem validade de 10 dias – prazo que deve ser usado pela polícia para concluir a investigação. A defesa de Deise informou, na segunda-feira (6), que prestou atendimento em parlatório à cliente e não teve acesso integral à investigação em andamento.

Veneno na farinha, diz IGP

De acordo com Marguet Mittman, diretora do Instituto-Geral de Perícias (IGP), a fonte da contaminação foi a farinha usada para fazer o bolo consumido pelas vítimas.

“Foram identificadas concentrações altíssimas de arsênio nas três vítimas. Tão elevadas que são tóxicas e letais. Para se ter ideia, 35 microgramas já são suficientes para causar a morte de uma pessoa. Em uma das vítimas, havia concentração 350 vezes maior”, diz Marguet.

De acordo com Marguet, foram coletadas 89 amostras na casa de mulher que fez o bolo. Uma amostra, de farinha, apresentou a concentração de arsênio.

‘Intenção de cometer crime’, diz polícia

O delegado Marcus Vinícius Veloso, responsável pela investigação, afirmou em coletiva de imprensa nesta segunda de que são “robustas as provas que apontam que ela (Deise Moura dos Anjos) é a autora [dos crimes]”. No entanto, não divulgou detalhes das provas, inclusive o motivo para o crime, porque isso pode atrapalhar a investigação.

“Ela teve a intenção de cometer o crime. Foi um crime doloso”, afirma o delegado Veloso.

A Polícia Civil investiga, ainda, quem era o alvo de Deise ao envenenar o bolo, como ela obteve arsênio e em que momento ele foi colocado na farinha.

Os envenenados

As três pessoas que morreram após consumir o bolo são: as irmãs Neuza Denize Silva dos Anjos e Maida Berenice Flores da Silva, e a filha de Neuza, Tatiana Denize Silva dos Anjos.

De acordo com o último boletim médico, a mulher que preparou o bolo, Zeli dos Anjos, de 60 anos, está hospitalizada em estado estável. Nesta segunda-feira (6), ela deixou a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). A criança de 10 anos que também comeu o bolo recebeu alta do hospital na sexta-feira.

Gosto estranho

As pessoas que consumiram o bolo notaram um gosto estranho ao ingerir o doce, segundo o delegado Marcus Vinícius Veloso. O alimento, com sabor apimentado e desagradável, foi percebido logo nos primeiros pedaços. Zeli chegou a interromper o consumo ao perceber as reclamações.

“Tão logo o menino de 10 anos comeu e também reclamou do sabor, ela meio que colocou a mão assim em cima do bolo, [e falou] ‘e agora ninguém mais come’. E as pessoas começaram a passar mal naquele momento”, diz o delegado.

O marido de Neuza, que não consumiu o bolo, não apresentou sintomas. E o marido de Maida comeu o bolo, foi hospitalizado, mas já teve alta. Os nomes deles não foram oficialmente divulgados.

Relembre o caso

De acordo com a Polícia Civil, sete pessoas da mesma família estavam reunidas em uma casa, durante um café da tarde, quando começaram a passar mal. Apenas uma delas não teria comido o bolo. Zeli, que preparou o alimento, em Arroio do Sal e levou para Torres, também foi hospitalizada.

Três mulheres morreram com intervalo de algumas horas. Tatiana Denize Silva dos Anjos e Maida Berenice Flores da Silva tiveram parada cardiorrespiratória, segundo o hospital. Neuza Denize Silva dos Anjos teve como causa da morte divulgada “choque pós-intoxicação alimentar”.

Segundo o delegado Marcus Vinícius Veloso, Zeli foi a única pessoa da casa a comer duas fatias. A maior concentração do veneno foi encontrada no sangue dela.

O que é arsênio

Conforme André Valle de Bairros, professor de Toxicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o arsênio é o elemento químico, enquanto arsênico é denominado para o composto trióxido de arsênio.

“O arsênico trata-se da forma mais tóxica. A partir de 100 mg é possível a morte de um indivíduo adulto. Geralmente, o arsênico está na forma de pó e não tem cheiro ou gosto. Apesar de ter sido usado como raticida, esta droga pode ser empregada para fins de tratamento oncológico em pacientes com leucemia promielocítica aguda e é comercializada como Trisenox”, explica o especialista.

Bairros assinala que arsênico é proibido de ser comercializado no Brasil como raticida e o uso como agente quimioterápico é restrito.

“O arsênio é um elemento de alta toxicidade conhecida pela humanidade e sempre houve um certo temor. Há locais no globo terrestre ricos em arsênio, e isso contamina fontes de água. Mas é algo que precisa ser muito investigado. Há literatura científica, e de fato, há essa contaminação em leite, carne e frutas, porém, o fato de estar expostos a concentrações maiores de arsênio não significa necessariamente uma intoxicação”, acrescenta.

FONTE: g1

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Fonte: Portal Acta

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