A prisão do bicheiro Rogério de Andrade na última terça-feira (29), suspeito de ter ordenado o assassinato do rival Fernando Iggnácio, em 2020, é mais um capítulo da guerra pelo espólio de Castor de Andrade.
Um dos maiores bicheiros cariocas, ele sofreu um infarto em 1997 enquanto cumpria prisão domiciliar. Sua morte desencadeou uma guerra sobre o controle do jogo do bicho e das máquinas caça-níqueis em territórios da zona oeste do Rio.
Sobrinho de Castor, Rogério era considerado um de seus principais aliados, enquanto Iggnácio era genro do bicheiro, casado com Carmen Lúcia.
Após a morte de Castor, Rogério e Iggnácio compartilharam o legado dele por um tempo, mas depois passaram a disputar o controle do jogo do bicho.
O assassinato pelo qual Rogério foi preso na terça aconteceu há quase quatro anos, em 10 de novembro de 2020, no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste do Rio.
Iggnácio foi morto com vários tiros quando caminhava até um carro no estacionamento de um heliponto. Ele voltava de Angra dos Reis, na Costa Verde, e havia acabado de desembarcar de um helicóptero.
Em março de 2021, a Promotoria denunciou Rogério de Andrade pelo crime. Em fevereiro de 2022, no entanto, a Segunda Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu, por maioria de votos, trancar a ação penal contra o contraventor, alegando falta de provas que demonstrem seu envolvimento no crime como mandante.
Novas investigações conduzidas pelo Gaeco teriam revelado supostos crimes relacionados à disputa entre Rogério e Iggnácio, afirma o Ministério Público.
Em sua defesa, os advogados de Rogério de Andrade afirmaram à época que a denúncia é genérica e falha em esclarecer como ele teria planejado ou ordenado a execução do crime, além de não apresentar provas concretas que justifiquem a imputação de autoria
Rogério ainda é suspeito de ser o mandante do assassinato de Paulo (Paulinho) de Andrade, em 1998. Filho de Castor, ele não havia concordado com a divisão do espólio do pai entre o primo Rogério e o cunhado Iggnácio, o que gerou um conflito à época.
QUEM É QUEM NA FAMÍLIA ANDRADE
CASTOR DE ANDRADE
Um dos maiores bicheiros do Rio, a área sob seu domínio do jogo do bicho e de caça-níqueis era, principalmente, na zona oeste carioca. Conhecido por também ter sido presidente do clube de futebol Bangu e patrono da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel, morreu em 1997, de um infarto, aos 71.
PAULINHO ANDRADE
Filho de Castor. Disputou com Rogério de Andrade a divisão do espólio do pai. Foi assassinado junto a seu segurança na Barra da Tijuca, em 1998. Meses depois, a polícia identificou o ex-policial militar Jadir Simeone Duarte como o autor dos disparos. Em depoimento, Duarte acusou Rogério de ser o mandante do crime.
FERNANDO IGGNÁCIO
Casado com Carmen Lúcia, filha de Castor. Assumiu parte da herança do bicheiro e viveu em eterna disputa com Rogério de Andrade.
A partir da segunda metade dos anos 1990, passou a controlar a Adult Fifty, empresa que operava máquinas de caça-níqueis em toda a zona oeste, enquanto Rogério teria começado a disputar o lucro da região.
Em 2001, Rogério sofreu um atentado em um apart-hotel. Conforme seu depoimento, ele foi recebido a tiros, mas conseguiu escapar e entrou em luta corporal com o atirador, que fugiu. Na ocasião, Iggnácio foi apontado pela polícia como suspeito de ser o mandante.
ROGÉRIO DE ANDRADE
Sobrinho e um dos principais aliados de Castor enquanto era vivo. Além do atentado de 2001, foi alvo de outra tentativa de homicídio em 2010, na avenida das Américas, no Recreio dos Bandeirantes.
Na época, uma bomba foi plantada sob o carro blindado do bicheiro, que estava no banco do carona. Seu filho, Diogo Andrade, 17, que dirigia o veículo, morreu.
A morte do filho também é considerada pela polícia como uma das motivações, além da disputa pelo jogo do bicho, que teriam levado Rogério a ordenar a morte de Iggnácio.
Rogério também é considerado como um dos suspeitos de ter ordenado a morte de Maninho Garcia, em 2004, bicheiro que atuava na Tijuca, no centro e na zona sul do Rio.
Na época, as ameaças de atentado em torno dos líderes do jogo do bicho cresceu, e Rogério de Andrade decidiu reforçar sua segurança pessoal. Para isso, contratou policiais temidos por seus métodos violentos, entre eles Ronnie Lessa, réu pela morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em 2018.