Parlamentares russos e latino-americanos condenaram nesta
segunda-feira (2) as sanções impostas pelo Ocidente contra dezenas de países,
no âmbito da Primeira Conferência Parlamentar Internacional Rússia-América
Latina.
“Opomo-nos categoricamente às sanções, a quaisquer
restrições unilaterais de natureza ilegítima que violem o direito internacional
e as regras do comércio internacional”, declarou a presidente do Senado russo,
Valentina Matviyenko, durante seu discurso na sessão plenária da conferência,
realizada na Casa dos Sindicatos em Moscou.
A parlamentar russa sugeriu aos países participantes “unir
os nossos esforços nos espaços parlamentares internacionais para lutar contra
esta prática ilegal”.
A senadora apontou que Cuba sofre bloqueio econômico dos
Estados Unidos há “mais de 60 anos” e qualificou como “inadmissível que um país
do século XXI extrapole sua jurisdição para outros Estados soberanos e os
obrigue a apoiar certas sanções”.
“Considero que chegou a hora de a comunidade internacional
levantar firmemente perante a ONU e outras organizações internacionais a
inadmissibilidade de quaisquer sanções unilaterais, para que sejam condenadas e
proibidas, uma vez que são sanções contra os povos”, declarou.
Por sua vez, o presidente da Assembleia Nacional da
Venezuela, Jorge Rodríguez, lembrou que “30 países sofrem hoje 26.162 sanções
impostas por um único país e seus satélites”, o que representa 28% da população
mundial.
Nesse sentido, descreveu as sanções unilaterais como uma
nova “praga” para a humanidade, que afeta o bem-estar das pessoas e o direito à
saúde pública, bem como o acesso às tecnologias e ao desenvolvimento,
sustentou.
Já o presidente da Assembleia Popular de Cuba, Esteban Lazo,
afirmou que está em curso uma “intensificação sem precedentes” do bloqueio
econômico e financeiro dos EUA contra seu país, com a aplicação de 243 novas
medidas impostas pelo então presidente dos EUA, Donald Trump, e mantidas pelo
sucessor Joe Biden.
Lazo descreveu como “especialmente cruel e com motivação
política” a inclusão de Cuba na lista “ilegal” de países que patrocinam o
terrorismo, o que dificulta seriamente as transações financeiras do país.
Além disso, alegou que Cuba não só não patrocina o
terrorismo, mas tem sido vítima de ataques deste tipo, muitos dos quais teriam
sido organizados em território americano, argumentou.
O assessor presidencial para a Cooperação Internacional da
Nicarágua, Laureano Ortega Murillo, filho do ditador Daniel Ortega, afirmou que
a cooperação entre Moscou e Manágua é totalmente diferente do “modelo de
cooperação imposto por EUA, Canadá e seus aliados europeus”.
Segundo Ortega, estes países condicionam a cooperação à
imposição da sua ideologia, das suas condições e dos seus “interesses
egoístas”.
Nesse contexto, salientou que, apesar da pressão do Ocidente,
a Nicarágua continua aprofundando suas relações com Rússia, China, Irã, Cuba e
Bolívia, “para não depender dos EUA ou da Europa” e ter seus próprios mecanismos
financeiros imunes à “chantagem e terrorismo econômico”.
O presidente russo, Vladimir Putin, inaugurou esta conferência na última sexta-feira, ocasião em que convidou os países latino-americanos a se juntarem ao Brics.
Apesar das reclamações da Rússia e das três ditaduras
latino-americanas mencionadas, os participantes não manifestaram arrependimento
sobre os atos que levaram a tais sanções, como a invasão russa à Ucrânia e a
perseguição da ditadura da Nicarágua à Igreja Católica.
Durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, realizada em Nova York em setembro, a ditadura venezuelana apresentou o “mapa geopolítico de sanções”, uma ferramenta digital que permite consultar as sanções que 30 países em todo o mundo receberam dos Estados Unidos e da União Europeia (UE), e propôs a formação de uma aliança internacional entre os países que são alvos destas medidas.
Durante seu pronunciamento no debate geral da Assembleia
Geral da ONU, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, havia
criticado a adoção de sanções e citou especificamente o caso de Cuba.
“As sanções unilaterais causam grande prejuízos à população
dos países afetados. Além de não alcançarem seus alegados objetivos, dificultam
os processos de mediação, prevenção e resolução pacífica de conflitos”, disse
Lula, que condenou “o embargo econômico e financeiro imposto a Cuba e a
tentativa de classificar esse país como Estado patrocinador de terrorismo”.
Outros líderes de esquerda também criticaram as sanções na ONU, como o presidente do Chile, Gabriel Boric. Embora tenha criticado a repressão imposta pela ditadura da Nicarágua à sua população e a invasão russa à Ucrânia, Boric pediu o fim das sanções contra Cuba e Venezuela. (Com Agência EFE)