terça-feira, 11 fevereiro 2025

Trump aposta em “terras raras” da Ucrânia para desafiar China

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse a jornalistas na Casa Branca na semana passada que quer um acordo com a Ucrânia para que o país do leste europeu forneça aos americanos as chamadas terras raras, como uma “equalização” para os “cerca de US$ 300 bilhões” de apoio americano na guerra ucraniana contra a Rússia.

“Estamos dizendo à Ucrânia que eles têm terras raras muito valiosas”, afirmou Trump. “Estamos procurando fazer um acordo com a Ucrânia, no qual eles vão garantir [como contrapartida a]o que estamos dando a eles com suas terras raras e outras coisas.”

“Eu disse a eles que quero o equivalente, como US$ 500 bilhões em terras raras, e eles essencialmente concordaram em fazer isso, então pelo menos não nos sentimos estúpidos. Caso contrário, somos estúpidos. Eu disse a eles, ‘Temos que conseguir alguma coisa’. Não podemos continuar pagando esse dinheiro”, afirmou.

Dias depois da primeira fala de Trump, em entrevista à agência Reuters, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, se disse favorável a um acordo.

“Se estamos falando de um acordo, então vamos fazer um acordo, somos a favor dele”, afirmou Zelensky.

Terras raras é um termo que designa um conjunto de 17 elementos químicos: lantânio, cério, praseodímio, neodímio, promécio, samário, európio, gadolínio, térbio, disprósio, hólmio, érbio, escândio, túlio, itérbio, lutécio e ítrio.

“As terras raras são fundamentais para a fabricação de magnetos e ímãs utilizados nos diversos motores elétricos. Elas são muito importantes para todo tipo de motor, para turbinas eólicas, motores de carro, e também para a indústria de defesa”, explicou à Gazeta do Povo o geólogo e advogado Frederico Bedran, do escritório Caputo, Bastos e Serra Advogados e ex-diretor de Geologia e Produção Mineral da Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia.

A China possui as maiores reservas conhecidas de terras raras do mundo e também as explora em outros países. Em 2024, segundo dados do Serviço Geológico dos Estados Unidos, os americanos tiveram que recorrer à China, Malásia, Japão e Estônia para atender 80% das suas necessidades desses elementos químicos.

“A China produz mais de 60% e processa mais de 90% desses bens [mundialmente]. E vem cada vez mais limitando a exportação tanto desses produtos quanto da tecnologia, ela vai dificultando o acesso da União Europeia e dos Estados Unidos a esses bens. Daí a importância geopolítica desses elementos”, apontou Bedran.

Entretanto, o advogado e geólogo afirmou que, apesar da proposta de Trump, a Ucrânia sozinha pode não ser a solução para os Estados Unidos encurtarem a distância para a China nessa corrida.

“Esses dados [das reservas de terras raras da Ucrânia] ainda não são muito claros. A Ucrânia tem potencial geológico, não só para terras raras, mas para muitos outros elementos. A discussão é se na Ucrânia há terras raras que nós chamamos de primárias ou depósitos tipo argila iônica, que são os que nós descobrimos recentemente no Brasil, que têm um potencial competitivo muito maior, porque precisam de um investimento mais baixo, tanto em operação quanto de instalação, capex [despesas de capital] e opex [despesas de operação]”, ponderou Bedran.

Os chamados minerais estratégicos são um item à parte na guerra comercial entre as grandes potências mundiais. Em dezembro, a China proibiu as exportações para os Estados Unidos de gálio, germânio e antimônio, após medidas do então governo Biden contra chips chineses.

Na semana passada, Pequim vetou as vendas de tungstênio e índio, entre outros metais, após Trump impor tarifas adicionais de 10% sobre produtos importados da China.

Bedran destacou que o Brasil pode ser beneficiado por essa disputa, já que os Estados Unidos já têm acordos com empresas que produzem terras raras aqui, mas o país ainda precisa explorar melhor esse potencial.

“Eu acho que o Brasil está diante de um cenário muito positivo na indústria global. A gente tem potencial geológico para o desenvolvimento de projetos com esses elementos, mas falta um apoio financeiro de Estado para que esses projetos possam se concretizar aqui no Brasil. É muito bem-vindo o trabalho que o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] já vem fazendo [no setor], mas ainda falta muito mais”, alertou.



Fonte: Gazeta do Povo

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