Em um novo capítulo da investigação que envolve o ex-ministro Walter Braga Netto, a Polícia Federal (PF) revelou detalhes sobre a tentativa do general da reserva de obstruir as investigações conduzidas pela corporação. Segundo a PF, Braga Netto teria tentado obter informações sigilosas sobre o acordo de colaboração premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do presidente Jair Bolsonaro, visando interferir na apuração dos fatos.
O relatório da PF aponta que Braga Netto buscou, por meio do pai de Mauro Cid, o empresário Mauro César Lourena Cid, acessar detalhes cruciais do acordo de colaboração.[
Leia também
De acordo com a PF, as tentativas de interferência tinham como objetivo controlar as informações fornecidas por Mauro Cid e alinhar as versões entre os investigados, o que configuraria obstrução da Justiça.
Entre os elementos de prova apresentados, destaca-se uma troca de mensagens entre Braga Netto e Mauro César Lourena Cid, realizadas por meio do aplicativo WhatsApp. Essas interações, registradas nas primeiras horas de 8 de agosto de 2023, foram apagadas logo após, o que levanta suspeitas de tentativa de encobrir evidências.
O general e o empresário trocaram mensagens justamente três dias antes da deflagração da operação “Lucas 12:2”, que investigava o desvio de joias recebidas por Bolsonaro e sua comitiva.
Em outro trecho das investigações, foi revelado que, em 7 de agosto de 2023, Mauro César Lourena Cid fez diversas interações com Braga Netto. Esses diálogos, segundo a PF, visavam manter os demais membros da organização criminosa informados sobre o andamento da colaboração de Mauro Cid e impedir que a verdade dos fatos fosse revelada à investigação.
A situação ficou ainda mais tensa delicada, em setembro de 2023, após a homologação do acordo de colaboração de Mauro Cid, os pais do colaborador entraram em contato com os generais Braga Netto e Augusto Heleno para afirmar que as acusações eram falsas, possivelmente em um esforço para descredibilizar o acordo de colaboração e aliviar a pressão sobre os envolvidos.
Em 8 de fevereiro de 2024, durante a operação “Tempus Veritatis”, a PF encontrou, na sede do Partido Liberal (PL), um documento contendo perguntas e respostas sobre o acordo de colaboração de Mauro Cid, guardado sob a mesa do coronel Flávio Botelho Peregrino, ex-assessor de Braga Netto. O conteúdo do documento indicava uma tentativa de controle das informações relacionadas à colaboração premiada, reforçando as suspeitas de interferência.
Prisão
Walter Braga Netto, foi preso pela PF na manhã deste sábado (14/12) em sua residência, em Copacabana, Rio de Janeiro, por obstrução à Justiça. Além da prisão do ex-ministro de Bolsonaro, a PF também cumpriu um mandado de busca e apreensão na residência de Flávio Peregrino, ex-assessor de Braga Netto, em Brasília. A operação visou impedir que os investigados continuassem a atrapalhar o curso das investigações e a produção de provas, garantindo que as ações ilícitas não se repetissem.
Braga Netto, que foi vice na chapa de Jair Bolsonaro durante a eleição de 2022, é um dos principais investigados no inquérito que apura a tentativa de golpe de Estado para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.