SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O último domingo ficou marcado por protestos contra o feminicídio e a violência contra a mulher nas ruas do Brasil. Algumas mulheres da imprensa esportiva, no entanto, vivenciaram problemas ao longo da jornada derradeira do Campeonato Brasileiro.
Nani Chemello, da Rádio Inferno, viveu momentos de tensão no Beira-Rio, em Porto Alegre. Após a confirmação da permanência do Internacional na Série A, ela foi confrontada e constrangida por Bernabei, lateral do Colorado.
“O Bernabei chega para falar comigo, só que eu não imaginei que ele mexeria no meu fone, ele tira e grita no meu ouvido, bota o fone no meu ouvido, sai para o outro lado, vira para trás e fala de novo: “fala agora”. Ele veio querer provocar e, de certa forma, me intimidar. Me senti desrespeitada no meu ambiente de trabalho, ele não tem direito de mexer no meu equipamento e gritar no meu ouvido. E aí, por ter falado do assunto, tem muita gente me chamando de oportunista, dizendo que eu quero aparecer mais que o Inter. Mas, sendo bem sincera, o que eu espero é uma retratação aí pública do Bernabei para que todas as pessoas que estão me ofendendo entendessem ele errou”, disse Nani Chimello, ao UOL.
Infelizmente, durante a comemoração dos jogadores com a Popular, o Bernabei se sentiu no direito de tirar meu fone de ouvido e gritar “fala agora, fala agora”. Bernabei, tu não vai estragar minha felicidade, mas se eu falei, foi porque tu é um dos responsáveis pelo momento ruim https://t.co/MAQD4JUBOr
— Andreana Chemello (@NaniChemello) December 7, 2025
Em Santos, Aline Gomes estava realizando um “ao vivo” pela CazéTV nos arredores da Vila Belmiro. Ela teve o microfone puxado e se machucou, assim como seu cinegrafista, por um torcedor do Peixe.
“Eu não sei porque acontece isso, sabe? Eu não sei se tem certas pessoas dentro da mídia esportiva, da imprensa, dos jogadores, enfim, da torcida. Eu não sei se eles se sentem ameaçados por nós, que a gente está conquistando um espaço que sempre foi majoritariamente masculino. E nesta hoje em dia a gente tá chegando mais, não só trabalhando, mas opinando. Enfim, em qualquer área envolvendo futebol, as mulheres estão crescendo cada vez mais”, disse Aline Gomes, ao UOL.
O QUE ACONTECEU DEPOIS?
Os desdobramentos foram de suma importância para garantir a segurança das profissionais. Tanto Nani quanto Aline receberam o apoio dos respectivos clubes, torcidas organizadas e companheiros jornalistas.
No caso da gaúcha, contudo, faltou a retratação de Bernabei. Até o momento da publicação desta reportagem, não houve qualquer tipo de comunicado.
O agressor de Aline e seu cinegrafista não foi identificado. Segundo a repórter, ele utilizava um uniforme de uma torcida organizada do Santos.
“Como se espalhou ali entre a direção do Inter, após a coletiva, o D’Alessandro, o André Mazucco e o Jorge, que é do jurídico do Inter, vieram falar comigo e me pediram desculpas pelo acontecido, disseram que o atleta estava errado, que ele não devia fazer isso e que em nome do clube eles estavam pedindo desculpas e que conversariam com ele internamente sobre o assunto”, disse Nani.
“Ele ainda tomou cuidado de passar por pelo lado onde não estava a câmera e ele passou muito rápido. Então infelizmente a gente não consegue identificar com tanta clareza quem é. O Santos entrou em contato comigo também, eu achei bem legal, assim como uma das organizadas do Santos. Eles estão tentando identificar o cara”, complementou Aline.
GOSTO AGRIDOCE
Passado o susto, Nani disse que recebeu inúmeras mensagens de carinho, embora alguns torcedores ainda tenham ficado do lado do atleta. Esse fato, para ela, desanima.
“A repercussão acabou sendo muito maior do que eu imaginava, muito, muito, muito mesmo, assim. E por conta dessa repercussão eu ganhei muitas mensagens positivas, mas eu recebi e estou recebendo muitas mensagens ofensivas e eu estou evitando ver as publicações que estão sendo feitas sobre o caso, porque os comentários”, explicou.
O ano ainda reservou outros casos de violência e intimidação contra mulheres na mídia esportiva. Em novembro, a repórter Duda Dalponte, da TV Globo, teve seu cabelo puxado durante a cobertura do AeroFla para a final da Libertadores.
Outros dois casos marcantes também ficam na memória. Renata Medeiros, da Rádio Gaúcha, foi insultada por um torcedor do Internacional: “Sai daqui, sua pu%$”. Três dias depois, Bruna Dealtry, do Esporte Interativo, sofreu uma tentativa de beijo de um torcedor do Vasco antes de jogo da Libertadores.
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Fonte: Notícias ao Minuto




