SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O São Paulo Futebol Clube enviou ao Ministério Público de São Paulo sua manifestação oficial após uma notícia de fato protocolada por um denunciante anônimo alegar práticas de gestão temerária dentro do clube. O MP aguardava justamente esse posicionamento antes de decidir se instaurará um inquérito civil para apurar o caso.
Segundo apuração da reportagem, o órgão ministerial destacou que a denúncia não apresentava qualquer prova, motivo pelo qual foi solicitado ao clube que se manifestasse preliminarmente. A defesa da diretoria do São Paulo foi apresentada na última segunda-feira (8), e agora cabe ao MP analisar o material e deliberar sobre o prosseguimento.
AS ACUSAÇÕES FEITAS PELO AUTOR ANÔNIMO
A notícia de fato apresentada ao MP sustenta quatro pontos principais de suposta gestão temerária:
– Déficit financeiro registrado pelo clube em 2024;
– Venda de jogadores por valores abaixo do esperado;
– Estruturação do chamado “FIP de Cotia”, um projeto de captação financeira ligado à base;
– Suposto conflito de interesses envolvendo o filho do presidente do clube, Julinho Casares, que teria sido sócio de uma empresa relacionada ao mercado do futebol.
Nenhuma dessas acusações veio acompanhada de documentos ou evidências.
A DEFESA APRESENTADA PELO SÃO PAULO
A reportagem conversou com Guilherme Salutti, advogado responsável pela defesa do clube no procedimento.
Segundo ele, a denúncia peca por não individualizar condutas nem apontar responsáveis ou provas concretas, o que, na prática, inviabilizaria qualquer inquérito.
“Não se diz quem teria cometido a infração, qual ato seria ou que decisão teria causado prejuízo. O autor simplesmente alega que o déficit de 2024 é gestão temerária. Mas quem o produziu? Qual conduta específica?”, questiona Salutti.
O advogado explica que gestão temerária exige dolo, ou seja, a intenção deliberada de causar dano à instituição esportiva.
“Para ser gestão temerária, é preciso provar que alguém quis prejudicar o São Paulo. Nada disso aparece na denúncia”.
VENDA DE JOGADORES
Um dos pontos da acusação é a venda de atletas por valores inferiores ao “valor de mercado”. A defesa rebateu afirmando que esse conceito é dinâmico e determinado pela oferta e demanda, e não por expectativas abstratas.
Para demonstrar isso, o clube elaborou, com apoio de sua área de scout, um quadro comparativo de vendas com atletas de idade, minutagem e nível semelhantes, incluindo:
– Matheus Gonçalves, vendido pelo Flamengo ao Al Ahli, da Arábia Saudita, por 8 milhões de euros;
– Vanderlan, vendido pelo Palmeiras ao RB Bragantino por 4,5 milhões de euros;
– Isaque, vendido pelo Fluminense ao Shakthar por 12 milhões de euros.
Segundo a defesa, os valores obtidos pelo São Paulo estão em linha com o que o mercado realmente paga hoje por jogadores dessa faixa.
FIP DE COTIA
Sobre a acusação de que o clube teria elaborado o FIP de Cotia em uma estrutura financeira para “fracionar direitos econômicos de atletas”, a defesa afirma que essa interpretação é equivocada.
Salutti explica que a ideia inicial do projeto não era mexer na titularidade de direitos econômicos, mas sim criar um instrumento de aporte financeiro no CNPJ do centro de formação, gerando retorno ao fundo por meio de receitas diversas: premiações, patrocínios, vendas de jogadores e outros ganhos operacionais.
Além disso, o advogado reforça que o projeto não foi implementado: “Ele está sobrestado. Não existe FIP de Cotia em funcionamento.”
CONFLITO DE INTERESSES
A notícia de fato também sugere que Julinho Casares, filho do presidente Julio Casares, teria conflito de interesses por ter sido sócio, em 2020, de um CNPJ ligado ao mercado de pets com amigos — entre eles, Aref Abdul Latif, que mais tarde virou empresário de alguns atletas que chegaram ao clube.
O projeto da empresa (Dospets Comércio) nunca saiu do papel e foi abandonado durante a pandemia.
O CNPJ jamais operou ou movimentou qualquer dinheiro.
O empresário Abdul Latif levou jogadores para categorias Sub-11, Sub-12 e Sub-13, mas todas as contratações foram aprovadas exclusivamente pelos olheiros do clube.
A questão já foi investigada por um procedimento interno de compliance, que ouviu todos os profissionais envolvidos e concluiu que o filho do presidente nunca interferiu em nenhuma aprovação de atletas.
EXPECTATIVA DE ARQUIVAMENTO
O São Paulo considera que apresentou respostas suficientes para demonstrar que as acusações não se sustentam e acredita que o Ministério Público deverá arquivar a notícia de fato.
Agora, o clube aguarda a decisão da Promotoria sobre a abertura -ou não- de um inquérito civil.
Leia Também: Presidente do Santos comenta sobre renovação de Neymar
Fonte: Notícias ao Minuto




